Outro dia eu estava participando de um evento na livraria Saraiva do shopping Center Norte, aqui em São Paulo, e um amigo disse uma frase que me fez lembrar de uma palestra que eu e Alfer Medeiros ministramos há algum tempo na Biblioteca Viriato Corrêa. Aproveitei a deixa e falei um pouquinho sobre realidade e ficção. Chegando em casa, encontrei nos meus arquivos o texto que redigi na época e gostaria de compartilhá-lo com vocês. A linguagem é coloquial, afinal de contas, eu escrevi do jeito que pretendia falar. O tema é bastante interessante; o real e o fantástico no imaginário popular. Espero que gostem. Vou postar por partes. Aí vai a primeira:
O que é real?
Eu
gostaria que vocês pensassem por um instante sobre o que é a realidade dentro
da sua concepção.
Pensaram?
Bem, acho que cada um de nós tem uma ideia formada a respeito desse conceito.
Mas será que a realidade não é o aparecimento concreto do nosso imaginário? Será
que somos capazes de imaginar as coisas por conta da realidade?
O que é realidade, afinal?
Algumas
pessoas diriam que não existe uma verdade absoluta, tudo depende das nossas
opiniões e percepções. Outros, diriam que há sim uma única realidade e que ela
é palpável. O fato é que o real é tudo aquilo que existe fora da mente ou
dentro dela, depende muito do imaginador.
Por
ora, vamos partir do princípio que realidade é tudo o que a nossa mente é capaz
de aceitar como sendo concreto, sem nada de extraordinário ou surreal. E sendo
assim, monótona e rotineira, o que seria de nós se não fossemos capazes de
imaginar coisas, criar, inventar? Que vida triste levaríamos...
Da
mente surgem situações fantásticas. Circunstâncias e criaturas que a nossa
noção do que é real não admite que existam no mundo em que vivemos. Por
exemplo, quem nunca teve um amigo imaginário quando criança? – eu tive dois; o
Dido e a Dida e eles se pareciam muito com o Rolo, personagem de Maurício de
Sousa. Não me perguntem por quê. Quem nunca imaginou um animal que fala, um
vampiro, lobisomem, um monstro? Nós sabemos que essas criaturas não podem ser
reais, não podem fazer parte do nosso mundo concreto, mas elas são reais, sim,
dentro da nossa cabeça e são reforçadas através dos filmes que assistimos, dos
livros que lemos e das histórias que ouvimos por aí.
Embora
não possamos admitir que zumbis ou quaisquer outros seres deste tipo existam, se
nós descartarmos o conceito palpável de realidade, eles se tornam tão sólidos e
abomináveis quanto poderiam ser. A prova desta verdade se manifesta através do
nosso medo. Quantas vezes você deixou de ir beber água no meio da noite por
causa de um filme que assistiu? Cenas que abalaram seu psicológico a ponto de
você achar que ao atravessar os corredores de sua própria casa no escuro,
encontraria aquela menina fantasma segurando flores e exibindo os dentes
encavalados, prontos para te abocanhar?
É
dessa realidade que falo e ela é sem dúvida muito importante principalmente
para os escritores que querem levar o fantástico travestido de real aos seus
leitores.
O
que é fantástico?
O fantástico se
caracteriza como a ruptura da realidade coesa e contínua. É a desconstrução da
realidade que conhecemos como verdadeira. Mostra uma percepção particular de
acontecimentos e criaturas estranhas, fabrica hipóteses, falseia o possível e é
exagerado.
O maior desafio do
escritor de literatura fantástica é convencer o leitor de que aquele universo
criado por ele é verossímil. E este é um fator muito importante para o sucesso
de um livro, além, é claro, de um bom enredo e personagens marcantes.
Por exemplo, você está
lendo e de repente um personagem pula da janela do trigésimo andar de um
prédio, cai em pé na rua e sai correndo. Você vai acreditar nessa cena se ele
for um humano comum? Não! Mas se já foi explicado que este personagem tem
certos poderes, que ele realmente poderia realizar tal façanha, sem problemas,
isso é verossimilhança, é a realidade que o autor conseguiu transmitir através
das páginas anteriores.
Na próxima postagem vou
falar um pouquinho sobre o imaginário, a diferença entre o fantástico e as
crenças e lendas urbanas, finalizando então o tema da palestra.
Não deixe de comentar
sobre o texto, sobre sua concepção de real e fantástico. Que filme, livro ou
história te roubou noites tranquilas de sono? E qual não te convenceu? Eu
gostaria muito de saber.
Obrigada pela leitura e
até a próxima.
Beijinhos.
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